
Em Belo Horizonte, a P.O.R. se coloca como laboratório de criação de moda - sem pressa e com foco no minimalismo prático
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Agosto 2019—
Se há algo que tem afetado o encanto da moda na última década, é a velocidade. Muita gente produzindo, tudo muito rápido, sempre muito consumível e descartável.
É um problema que o mercado - e quem gosta de usar a estética do vestir como meio de expressão - tem enfrentado; sem falar na questão da (in) sustentabilidade da fabricação desenfreada e de todo o lixo gerado e retroalimentado pelo fast fashion.
Por isso é sempre interessante quando surgem iniciativas que resolvem botar um ponto-e-vírgula nesse processo, repensar e reavaliar algumas questões. Como é o caso da P.O.R., marca & laboratório de criação surgido em Belo Horizonte há menos de um ano e que lança sua próxima coleção com previsão para setembro.
É um problema que o mercado - e quem gosta de usar a estética do vestir como meio de expressão - tem enfrentado; sem falar na questão da (in) sustentabilidade da fabricação desenfreada e de todo o lixo gerado e retroalimentado pelo fast fashion.
Por isso é sempre interessante quando surgem iniciativas que resolvem botar um ponto-e-vírgula nesse processo, repensar e reavaliar algumas questões. Como é o caso da P.O.R., marca & laboratório de criação surgido em Belo Horizonte há menos de um ano e que lança sua próxima coleção com previsão para setembro.


O contexto da P.O.R. parte da amizade entre dois criadores da (boa) nova geração mineira de moda: Carlos Penna e Bárbara Monteiro. Ele, designer de acessórios hiperativo, se especializou em peças que usam materiais industriais e elementos não tão convencionais ao segmento. Ela, via sua Molett, se apega ao conforto sporty e maleável do moletom e seu universo.
De conversas entre as duas marcas veio a nova empreitada: uma etiqueta que tem pouca produção, não segue o calendário padrão de lançamentos, nem pensa em vender por e-commerce e tem uma conta no Instagram que, não sem frequência, não vai exibir imagem alguma.
"A ideia inicial veio muito do ‘fazer para vestir’, de elaborar a própria roupa”, explica Carlos sobre o intercâmbio de vontades. “Nos reuníamos para outros projetos e daí surgiu o desejo de criar alguma coisa nós mesmos, com uma modelagem que nos interessasse, poucas peças e tecidos naturais”
De conversas entre as duas marcas veio a nova empreitada: uma etiqueta que tem pouca produção, não segue o calendário padrão de lançamentos, nem pensa em vender por e-commerce e tem uma conta no Instagram que, não sem frequência, não vai exibir imagem alguma.
"A ideia inicial veio muito do ‘fazer para vestir’, de elaborar a própria roupa”, explica Carlos sobre o intercâmbio de vontades. “Nos reuníamos para outros projetos e daí surgiu o desejo de criar alguma coisa nós mesmos, com uma modelagem que nos interessasse, poucas peças e tecidos naturais”

Henrique Gualtieri
O caminho começou no final de 2018, com cinco peças que foram direto para o guarda-roupa dos dois e, a partir do desejo de amigos e do boca-a-boca, produzidas aos poucos para pagar os custos dessa fabricação pessoal.
A partir desse teste inicial, a história tomou um formato de laboratório - indo muito na contramão da velocidade do mercado e focando num produto final que tem o seu tempo merecido de criação.
"É um laboratório no sentido de sair do calendário das empresas formais. Não tem essa pressa, essa fúria de entregar no tempo determinado, que é o que acaba por fazer perder o desejo e o amor pela história”, diz ele, batendo forte na tecla do fazer por prazer.
É o que chama a atenção nesse movimento de criação da dupla. A partir do momento que eles não têm vontade & necessidade de atender ao rígido timing alheio (que não faz mais sentido para o público, cada vez mais desacelerado), é uma moda que toma forma muito mais humana - é menos a roupa, mais o vestir.
A partir desse teste inicial, a história tomou um formato de laboratório - indo muito na contramão da velocidade do mercado e focando num produto final que tem o seu tempo merecido de criação.
"É um laboratório no sentido de sair do calendário das empresas formais. Não tem essa pressa, essa fúria de entregar no tempo determinado, que é o que acaba por fazer perder o desejo e o amor pela história”, diz ele, batendo forte na tecla do fazer por prazer.
É o que chama a atenção nesse movimento de criação da dupla. A partir do momento que eles não têm vontade & necessidade de atender ao rígido timing alheio (que não faz mais sentido para o público, cada vez mais desacelerado), é uma moda que toma forma muito mais humana - é menos a roupa, mais o vestir.

Henrique Gualtieri
"A questão do tempo é um problema de tudo hoje, às vezes nas marcas você tem que abrir mão de certos acabamentos para acertar a data. Na P.O.R., a peça fica pronta quando está maturada. Temos uma bolsa que deve sair agora que está sendo pensada há quase um ano. É o tecido certo, a modelagem certa, o acabamento certo. Tudo no seu tempo.”
Por isso a produção pequena, baseada também num garimpo de matérias-primas (sempre naturais) por Belo Horizonte, compradas em quantidades mínimas. E também os testes beta, feitos pela dupla e amigos próximos com as peças-piloto, que serve tanto para entender como a peça sobrevive ao dia-a-dia - do caimento do tecido aos perigos da máquina de lavar - quanto para criar um desejo de consumo.
No final das conta, é um slow fashion levado a sério, mas sem pedantismos e sem cair na narrativa boboca das “peças exclusivas em tiragem limitada, corra e compre a sua”.
Modelagens da primeira coleção continuaram na segunda entrada e chegam à próxima, com lançamento previsto para setembro. E dali evoluem para outras formas, com interferências, feito Pokémons. Ou apenas desaparecem, de volta ao laboratório para, quem sabe, surgirem no futuro em outros tecidos.
Tudo seguindo uma estética que pode cair no minimalismo moderno mas, no fundo, é moda pensada pra ser prática. “É uma modelagem que é ampla, mas não é simplesmente um saco, é testada para funcionar.”
Por isso a produção pequena, baseada também num garimpo de matérias-primas (sempre naturais) por Belo Horizonte, compradas em quantidades mínimas. E também os testes beta, feitos pela dupla e amigos próximos com as peças-piloto, que serve tanto para entender como a peça sobrevive ao dia-a-dia - do caimento do tecido aos perigos da máquina de lavar - quanto para criar um desejo de consumo.
No final das conta, é um slow fashion levado a sério, mas sem pedantismos e sem cair na narrativa boboca das “peças exclusivas em tiragem limitada, corra e compre a sua”.
Modelagens da primeira coleção continuaram na segunda entrada e chegam à próxima, com lançamento previsto para setembro. E dali evoluem para outras formas, com interferências, feito Pokémons. Ou apenas desaparecem, de volta ao laboratório para, quem sabe, surgirem no futuro em outros tecidos.
Tudo seguindo uma estética que pode cair no minimalismo moderno mas, no fundo, é moda pensada pra ser prática. “É uma modelagem que é ampla, mas não é simplesmente um saco, é testada para funcionar.”


O outro lado que funciona bem é o contato com o cliente - grupo que começou entre amigos e pessoas próximas antes de evoluir para o público de lojas parceiras da cidade que abrigaram a marca: Graça Ottoni (onde estreia também esta coleção) mais o Grande Hotel Ronaldo Fraga. Esse olho-no-olho, do feedback corporal, dá uma carga que influencia diretamente na criação.
Motivo também que faz a dupla se basear em vendas via lojas belorizontinas, não tem vontades de comercializar online e se coloca a atender possíveis interessados distantes por e-mail ou WhatsApp: manter o comprador numa conversa pessoal, à mineira.
“Quando o cliente entende a história, ele também começa a intervir no processo e estamos abertos a isso. Aí vira quase o retorno à figura do costureiro que está ali pronto para fazer tamanhos maiores, outras cores, outras mudanças”, explica Carlos, deixando claro que a moda da P.O.R. pode, por exemplo, atender a corpos fora dos padrões de mercado.
“É diferente a forma de lidar, dá pra criar esse laço com o cliente, que te pede uma roupa específica, feita do tamanho dele, com as interferências dele. E essa história vai sendo absorvida no processo da próxima coleção”
Que vai ficar pronta, bom, quando ficar. Ou não.
P.O.R.
porporpor.com
@__p.o.r
Motivo também que faz a dupla se basear em vendas via lojas belorizontinas, não tem vontades de comercializar online e se coloca a atender possíveis interessados distantes por e-mail ou WhatsApp: manter o comprador numa conversa pessoal, à mineira.
“Quando o cliente entende a história, ele também começa a intervir no processo e estamos abertos a isso. Aí vira quase o retorno à figura do costureiro que está ali pronto para fazer tamanhos maiores, outras cores, outras mudanças”, explica Carlos, deixando claro que a moda da P.O.R. pode, por exemplo, atender a corpos fora dos padrões de mercado.
“É diferente a forma de lidar, dá pra criar esse laço com o cliente, que te pede uma roupa específica, feita do tamanho dele, com as interferências dele. E essa história vai sendo absorvida no processo da próxima coleção”
Que vai ficar pronta, bom, quando ficar. Ou não.
P.O.R.
porporpor.com
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