
Um retorno massa para 2019: as artesanias de Melk Z-Da
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Maio 2019—
Lá nos bons tempos do Fashion Rio, entre os desfiles de moda de shopping e as mulheres cool-cariocas do começo dos anos 2000, havia um brilho fora do clube. Estilista que vinha de Pernambuco, Melk Z-Da insistia em propor uma moda autoral com experimentações têxteis, silhuetas artísticas e muito reaproveitamento de material.
Upcycling, handmade, esses termos que hoje não assustam mais ninguém (& são bem desejáveis), naquela época eram coisa de jovem estilista experimentador. E Melk, numa época pré-aproximação das redes sociais e sem ser abraçado pela mídia de moda de então, sofreu os dramas de ser “o esquisito do rolê”.
Tanto que, quando o Fashion Rio mudou de fase (e, consequentemente, acabou em 2015), Melk ficou de fora. E se recolheu para seu casulo em Casa Forte, no Recife, para se reinventar. - até hoje.
Upcycling, handmade, esses termos que hoje não assustam mais ninguém (& são bem desejáveis), naquela época eram coisa de jovem estilista experimentador. E Melk, numa época pré-aproximação das redes sociais e sem ser abraçado pela mídia de moda de então, sofreu os dramas de ser “o esquisito do rolê”.
Tanto que, quando o Fashion Rio mudou de fase (e, consequentemente, acabou em 2015), Melk ficou de fora. E se recolheu para seu casulo em Casa Forte, no Recife, para se reinventar. - até hoje.

Thiago Ferreira
Quem nunca perdeu o rapaz de vista sabe que ele passou os últimos anos aplicando sua mão de obra preciosa para criações de roupas sob medida, casamentos e universos quetais.
Mas para os desavisados, ele reapareceu de surpresa no último Minas Trend, em abril, com uma coleção comercial pensada para os novos tempos - e com desfile marcado para o Dragão Fashion de 2019, que acontece em Fortaleza agora em maio.
É um comeback, porém, sem nostalgias - como aqueles primeiros parágrafos podem fazer parecer.
“Não curto muito #TBT, sabe? Sei que tem sua importância, mas acaba parecendo que você não está vivendo o presente. E eu não sou nem um pouco nostálgico. As coisas têm um período, que acabam e pronto. Estou encarando isso aqui como um começo, e isso não me incomoda nem um pouco”, diz ele enquanto exibe as araras dessa “primeira” coleção em Belo Horizonte.
Mas para os desavisados, ele reapareceu de surpresa no último Minas Trend, em abril, com uma coleção comercial pensada para os novos tempos - e com desfile marcado para o Dragão Fashion de 2019, que acontece em Fortaleza agora em maio.
É um comeback, porém, sem nostalgias - como aqueles primeiros parágrafos podem fazer parecer.
“Não curto muito #TBT, sabe? Sei que tem sua importância, mas acaba parecendo que você não está vivendo o presente. E eu não sou nem um pouco nostálgico. As coisas têm um período, que acabam e pronto. Estou encarando isso aqui como um começo, e isso não me incomoda nem um pouco”, diz ele enquanto exibe as araras dessa “primeira” coleção em Belo Horizonte.

Thiago Ferreira
Esses cinco anos sem passarela amadureceram notavelmente a fala de Melk, um dos poucos daqueles tempos de Fashion Rio (olha o #TBT de novo) que, com sangue nos olhos, gostava de conversar e explicar passo a passo das suas ideias e criações (“eu gosto de contar histórias” sempre foi um dos seus bordões) para alegria de alguns poucos jornalistas como eu, que não aguentavam mais malharia e moda praia.
O fervor não mudou, mas agora vem acompanhado de uma noção maior de realidade.
“Hoje quando eu penso em moda, eu não penso em algo pra pendurar na parede, é pra se usar. Naquela época, eu nem ligava se roupa ia arrasar quem estava usando, a estética vinha primeiro. Eu fazia roupa para a passarela, nem pensava em preço”, relembra. “E esse tempo todo no sob medida me deixou mais preparado para o comercial, que é algo que me faz falta. O trabalho de ateliê é massa, mas te aprisiona. Tu faz uma pesquisa para uma pessoa que poderia ser uma coleção inteira, e isso te limita demais”.
Por isso que, bem esperto, Melk resolveu não voltar fazendo moda festa - algo que poderia se esperar de quem desembarcou direto no Minas Trend, um dos polos do segmento (#bordadosmil).
“Isso me faria parecer que estava preso no ciclo de antes. Então fui fazendo testes no ateliê, pequenas coleções, moletons… até decidir que poderia fazer uma espécie de resort, ir por esse caminho. Que tem a ver com o clima do Brasil, que é leve, mas onde ainda cabe uma roupa mais arrumada, comporta esse tipo de produto um pouco experimental”
O fervor não mudou, mas agora vem acompanhado de uma noção maior de realidade.
“Hoje quando eu penso em moda, eu não penso em algo pra pendurar na parede, é pra se usar. Naquela época, eu nem ligava se roupa ia arrasar quem estava usando, a estética vinha primeiro. Eu fazia roupa para a passarela, nem pensava em preço”, relembra. “E esse tempo todo no sob medida me deixou mais preparado para o comercial, que é algo que me faz falta. O trabalho de ateliê é massa, mas te aprisiona. Tu faz uma pesquisa para uma pessoa que poderia ser uma coleção inteira, e isso te limita demais”.
Por isso que, bem esperto, Melk resolveu não voltar fazendo moda festa - algo que poderia se esperar de quem desembarcou direto no Minas Trend, um dos polos do segmento (#bordadosmil).
“Isso me faria parecer que estava preso no ciclo de antes. Então fui fazendo testes no ateliê, pequenas coleções, moletons… até decidir que poderia fazer uma espécie de resort, ir por esse caminho. Que tem a ver com o clima do Brasil, que é leve, mas onde ainda cabe uma roupa mais arrumada, comporta esse tipo de produto um pouco experimental”

Thiago Ferreira
A coleção de 50 peças, baseada no universo dos chás, tem muito do que já era marca registrada do Melk de antes, como as tramas vazadas, construídas com fitas em viés, e os bordados preciosos de linha, ao lado dos crochês feitos com tecido. Mas em versões possíveis e com o romantismo não abobado que sempre pontuou suas coleções.
Mostrando que sempre foi um pioneiro do que todo mundo hoje gosta, ele não larga mão das suas artesanias - construídas no ateliê com suas oito costureiras (e quatro gatos que, se não ajudam, devem dar um charme ao processo). E tem aquela plena consciência de quem tem muito para se colocar na parte de cima do jogo.
“Tudo o que era artesanal era tido como pobre, não era ligado ao luxo, tanto da parte do público quanto da imprensa. Remetia automaticamente a uma criação feita sem recursos, um preconceito ao trabalho do artesão. Mas o artesão é um artista, e as pessoas estão percebendo melhor isso. Havia uma má vontade, uma preguiça de ver de perto, sinto que isso passou”
O mesmo pensamento vem das construções feitas com reaproveitamento de material, que anda tão em voga. “Quando eu fazia texturas têxteis, muita coisa era feita com material que sobrava do ateliê. Eu ficava até constrangido de falar que estava reciclando, como se fosse uma coisa pobre. Mas é algo que continuo fazendo até hoje”
Mostrando que sempre foi um pioneiro do que todo mundo hoje gosta, ele não larga mão das suas artesanias - construídas no ateliê com suas oito costureiras (e quatro gatos que, se não ajudam, devem dar um charme ao processo). E tem aquela plena consciência de quem tem muito para se colocar na parte de cima do jogo.
“Tudo o que era artesanal era tido como pobre, não era ligado ao luxo, tanto da parte do público quanto da imprensa. Remetia automaticamente a uma criação feita sem recursos, um preconceito ao trabalho do artesão. Mas o artesão é um artista, e as pessoas estão percebendo melhor isso. Havia uma má vontade, uma preguiça de ver de perto, sinto que isso passou”
O mesmo pensamento vem das construções feitas com reaproveitamento de material, que anda tão em voga. “Quando eu fazia texturas têxteis, muita coisa era feita com material que sobrava do ateliê. Eu ficava até constrangido de falar que estava reciclando, como se fosse uma coisa pobre. Mas é algo que continuo fazendo até hoje”


Thiago Ferreira
Hoje a roda está invertida e Melk continua se esforçando para um mundo mais correto: coleções pequenas, construídas de forma calma e com atenção aos pequenos detalhes. “Meu sonho é que o ateliê fique totalmente sustentável. Por isso também estamos testando outras matérias primas, e também de tingimentos e fixadores naturais. Esta coleção, inclusive pelo tema, tem a família do linho que é toda tingida com hibisco, camomila, chá preto, e tende a crescer”, conta.
E contemporiza, muito corretamente: “Hoje não existe tempo, ninguém tem tempo para nada. Eu associo o artesanal ao tempo, alguém teve um trabalho para fazer aquilo e a roupa carrega uma história. É como se a cliente estivesse valorizando o tempo que alguém levou para produzir”
Voltou na hora certa.
E contemporiza, muito corretamente: “Hoje não existe tempo, ninguém tem tempo para nada. Eu associo o artesanal ao tempo, alguém teve um trabalho para fazer aquilo e a roupa carrega uma história. É como se a cliente estivesse valorizando o tempo que alguém levou para produzir”
Voltou na hora certa.