
Maculada
:
FERNANDO COZENDEYCASA DE CRIADORES
Verão 2019
—
Há de se ter coragem para se despir completamente em púbico - e aqui falo da nudez psicológica - ainda mais em ambiente tão cheio de julgamentos como uma semana de moda.
Fernando Cozendey está acostumado (se essa é palavra correta, não sei) a usar a passarela como escape e terapia. Sob suas coleções coloridas, bem-humoradas e cheias de láicras figurativas, sempre havia (para quem se dispusesse a ouvir) muito da realidade da cabeça dele.
Aqui, a coisa não foi diferente - mas foi infinitamente mais profunda. No segundo desfile de uma trilogia planejada, ele quis tocar em um assunto e um acontecimento tão íntimos e delicados que chega a ser difícil escrever sobre sem ser leviano.
Fernando resolveu botar para fora um episódio de abuso sexual infantil, algo que até recentemente nunca tinha aberto a ninguém, e exorcizar o fantasma através da passarela.
Fernando Cozendey está acostumado (se essa é palavra correta, não sei) a usar a passarela como escape e terapia. Sob suas coleções coloridas, bem-humoradas e cheias de láicras figurativas, sempre havia (para quem se dispusesse a ouvir) muito da realidade da cabeça dele.
Aqui, a coisa não foi diferente - mas foi infinitamente mais profunda. No segundo desfile de uma trilogia planejada, ele quis tocar em um assunto e um acontecimento tão íntimos e delicados que chega a ser difícil escrever sobre sem ser leviano.
Fernando resolveu botar para fora um episódio de abuso sexual infantil, algo que até recentemente nunca tinha aberto a ninguém, e exorcizar o fantasma através da passarela.
Batizada de Maculada, a coleção é toda construída sobre ideais infantis versus a transparente sexualização dos corpos através dos olhares externos. Fernando construiu suas ideias através de personagens infantis - tipo Ursinhos Carinhosos e figuras Disney -, fazendo suas silhuetas nas modelagens e depois transferindo para o mínimo detalhe do tule transparente (que ele define como “não-cor”) em segundas peles adornadas por construções volumosas em tiras do mesmo material.
É como se a transparência e a cor neutralizada servissem para demonstrar a vulnerabilidade da criança exposta a tal situação, como se os personagens do seu imaginário deixassem de existir como tais, exibindo um corpo que - opaco - nem deveria estar ali daquela maneira.
É como se a transparência e a cor neutralizada servissem para demonstrar a vulnerabilidade da criança exposta a tal situação, como se os personagens do seu imaginário deixassem de existir como tais, exibindo um corpo que - opaco - nem deveria estar ali daquela maneira.
Para quem sabia do complexo contexto (e, novamente, se dispôs a ouvi-lo), assistir à apresentação foi de prender o ar - sem saber se agonizava junto com a coragem da exposição ou aliviava com a impressão de que, para ele, era um exorcismo muito que necessário.
Felizmente para Fernando, essa última impressão é mais do que real.
Felizmente para Fernando, essa última impressão é mais do que real.
