
Falando sobre quelóides
:
RENATA BUZZOCASA DE CRIADORES
Verão 2019
—
Renata Buzzo gosta de se afundar na psiquê para construir e justificar suas meticulosas superfícies têxteis. Seus desfiles então funcionam como grandes terapias em que ela se expõe enquanto constrói obsessivamente formas e volumes.
Desta vez, ela se coloca a falar sobre personalidades frágeis e dissonantes que, em contato com a sociedade, podem ser (e normalmente são) mantidas para dentro a fim de evitar conflitos. Depressões e bipolaridades, por exemplo, qualquer dessas coisas que não são exatamente aceitas em um convívio ditado pela normalidade.
Daí que ela cria sua teoria de carapaças que permeiam todo o seu verão - ou, como ela define, “casca dura, miolo mole”.
A sequencia de looks funciona então como uma grande performance de evolução quelóide: as silhuetas vintage de que ela é fã vão se construindo em tons de bege, normativizando essa defesa psíquica em referência à reação da pele que vai se cicatrizando. Uma porrada, uma marca; mas se você ferir novamente essa marca, a proteção vai ficando ainda mais grosseira.
Desta vez, ela se coloca a falar sobre personalidades frágeis e dissonantes que, em contato com a sociedade, podem ser (e normalmente são) mantidas para dentro a fim de evitar conflitos. Depressões e bipolaridades, por exemplo, qualquer dessas coisas que não são exatamente aceitas em um convívio ditado pela normalidade.
Daí que ela cria sua teoria de carapaças que permeiam todo o seu verão - ou, como ela define, “casca dura, miolo mole”.
A sequencia de looks funciona então como uma grande performance de evolução quelóide: as silhuetas vintage de que ela é fã vão se construindo em tons de bege, normativizando essa defesa psíquica em referência à reação da pele que vai se cicatrizando. Uma porrada, uma marca; mas se você ferir novamente essa marca, a proteção vai ficando ainda mais grosseira.
Não que grosseiro seja a palavra certa para definir esse trabalho, bem pelo contrário. Renata vai elaborando as diversas personalidades, algumas completamente cobertas, outras que ainda têm chances de transparência para um contato um pouco mais aberto com a humanidade.
Enquanto isso, vai recobrindo as peças com tranças de fios de malha. Começando nos detalhes até crescerem e recobrirem o corpo todo em um emaranhado intrincadíssimo de fios que vão e vem - até chegar nos últimos looks, pesados como as proteções que todos nós formamos e carregamos durante a vida.
Enquanto isso, vai recobrindo as peças com tranças de fios de malha. Começando nos detalhes até crescerem e recobrirem o corpo todo em um emaranhado intrincadíssimo de fios que vão e vem - até chegar nos últimos looks, pesados como as proteções que todos nós formamos e carregamos durante a vida.
Renata tem uma fama certa de moça das construções, que são um prazer de ver para qualquer um que se interessa por arte têxtil. Mas por baixo dessa casca artesanal, está vivendo o dilema de toda marca conceitual demais - que não se sustenta, pois os produtos são caros e o público, diminuto.
Mas ela tem a vantagem de SABER que tem esse dilema e está disposta a repensar seus paradigmas atrás de uma produção mais comercial, sem abrir mão das suas texturas.
Nós, do lado de cá, esperamos ansiosos o resultado dessa terapia.
Mas ela tem a vantagem de SABER que tem esse dilema e está disposta a repensar seus paradigmas atrás de uma produção mais comercial, sem abrir mão das suas texturas.
Nós, do lado de cá, esperamos ansiosos o resultado dessa terapia.