Mark

The category is… afro
transcendence realness
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ISAAC SILVA
CASA DE CRIADORES
Verão 2019





No final do século 16, em Salvador, o escravo Francisco Manicongo circulava com roupas de feiticeiras africanas - adotando o nome de Xica. Primeira travesti negra registrada na história do país, Xica foi perseguida pela igreja e se tornou símbolo de luta em 2018.

Essa é a personagem que norteia o verão 2019 de Isaac Silva, uma das figuras máximas da Casa de Criadores - ele, também, negro e baiano, e com olhar firme sobre a causa das amigas transgêneras.

“Nós temos que nos perguntar de quem estamos a falar quando dizemos mulher”, diz o texto de Angela Davis lido por Neon Cunha antes do show, provocando: “que tal seria se uma mulher trans negra ocupasse o lugar simbólico da categoria, que sempre disse respeito a mulheres brancas, cisgêneras, de classe média?”.

Isaac se mete na briga pela representação e, pelo menos na sua passarela, resolve o assunto armando um baile com um casting inteiramente trans - negras e brancas, magras e gordas, modelos e ativistas, de classe média e da perifa. Mas todas, inevitavelmente pela construção social, totalmente afrontosas.



Ricardo Toscani




Revendo também suas próprias normalidades ele, que sempre foi dos panos coloridos, ganha mais atenção ainda ao fazer um desfile completamente preto & branco - quase axé minimalista, em comparação com seu histórico.

“Quando pensava em Xica, era sempre um ambiente de sonho. E nos sonhos, pra mim, sempre tem essa coisa de poucas cores, do P&B”, diz ele.

Daí que no primeiro bloco, suas transfeiticeiras aparecem com todos aqueles algodões africanos de estampados maravilhosos que são vendidos por metro na Praça da República - porém com o ineditismo das não-cores, que dá ainda mais força às flores, ânforas e grafismos. Privilégios de insider do rolê dos imigrantes, com quem Isaac faz suas encomendas.
Agência Fotosite

Essa afropretobrancância depois se descontrói dos vestidos aos modelos mais esportivos, em sarja e malha, que são mais modernos aos olhos - o conjunto vestido pela própria Neon, com espinhas desenhadas, por exemplo.

Agência Fotosite
O bonde montado por Isaac se faz essencial num momento em que a discussão sobre a presença normalizada das trans em sociedade (e na moda) é fervente. Se a máxima atual é “cada um que se vista como quiser”, elas ainda estão aí brigando para se colocar como a mulheres que são.

É óbvio que o ambiente da CdC, com um público majoritariamente (aparentemente) aberto ao assunto, ainda é uma utopia. Todo mundo aplaude e se emociona - mas, enquanto isso, modelos trans ainda são tratadas como casta; estilistas trans ficam no mundo invisível e por aí vai. Mas se não for a passarela a mudar esse assunto, quem vai?



Ricardo Toscani

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31.07.2018

Mark

CASA DE CRIADORES . VERÃO 2019



Isaac Silva
Neriage
Igor Dadona
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Också
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Another Place
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