
Nossa presença é inevitável
:
HELOISA FARIACASA DE CRIADORES
Verão 2019
—
Mandemos a real: os desfiles de Heloisa Faria sempre foram um caminho à parte na recente geração da Casa de Criadores. Quase hermética dentro da sua poesia visual muito espontânea, que passeia entre tecidos antigos e modelagens ressignificadas, ela sempre investiu em um universo muito particular que tinha ecos de uma lógica anterior. Quem os assistia sem contexto, ficava entre o amor e a indiferença. Não que isso seja, necessariamente, uma coisa ruim - é uma mão forte de quem sabe o que quer fazer. E entrega.
Desta vez, porém, o seu universo veio mais carregado de significados claros. Um desfile que sempre se valeu muito mais de um mood do que uma temática ganha uma discussão que lhe faz sentido: o poder das mulheres, a união à la support your local queens, a verdade tão atual da discussão da existência delas como força criativa e não coadjuvantes em um mundo masculino.
Desta vez, porém, o seu universo veio mais carregado de significados claros. Um desfile que sempre se valeu muito mais de um mood do que uma temática ganha uma discussão que lhe faz sentido: o poder das mulheres, a união à la support your local queens, a verdade tão atual da discussão da existência delas como força criativa e não coadjuvantes em um mundo masculino.

Poderia soar como oportunismo se estivéssemos falando de muitas outras marcas. Quem não quer se identificar com a causa femme em 2018, afinal?
Mas Helo, calma e centrada, explica o quanto essa sororidade sempre esteve presente na sua vida e, claro, é necessária. Um de seu motes é justamente “mulheres apoiam mulheres, sim”.
Ela, que é mãe de duas pequenas, mais uma vez leva para a passarela as temáticas da sua vida - e com reforço luxuoso na pesquisa, com influências de Sonia Delaunay e Linder Sterling (ei, estamos falando de mulheres poderosas aqui).
Mas Helo, calma e centrada, explica o quanto essa sororidade sempre esteve presente na sua vida e, claro, é necessária. Um de seu motes é justamente “mulheres apoiam mulheres, sim”.
Ela, que é mãe de duas pequenas, mais uma vez leva para a passarela as temáticas da sua vida - e com reforço luxuoso na pesquisa, com influências de Sonia Delaunay e Linder Sterling (ei, estamos falando de mulheres poderosas aqui).

Linder, inglesa, é uma dessas artistas plásticas punks por excelência (e reais, ao contrário de Vivienne Westwood). Feminista radical, tem na sua obra uma série de colagens que discutem a objetificação feminina ao contrapor corpos e objetos do cotidiano - e inspira metade das colagens de artistas de Instagram que estão por aí. Dá um Google.
Essa reapropriação de objetos, em caminho inverso, cai nas camisarias masculinas, símbolo supremo da superioridade do macho clássico. Não precisamos fingir aqui que isso é uma coisa nova, nem Helo se pretende a tanto. Mas as constrói muito bem a ponto de tomar a viagem pra si.
Essa reapropriação de objetos, em caminho inverso, cai nas camisarias masculinas, símbolo supremo da superioridade do macho clássico. Não precisamos fingir aqui que isso é uma coisa nova, nem Helo se pretende a tanto. Mas as constrói muito bem a ponto de tomar a viagem pra si.
Não são apenas “camisas masculinas feitas para mulheres”, de qualquer forma. Ela pega as ditas e as transforma em vestes, em chemises, em peças aquimonadas. Chega a reaproveitar inclusive uma peça da Zegna que era do seu ex-marido para mandar para a passarela.
Afinal, é essa ressignificação de peças que dá força ao trabalho da estilista. Ela tem um discurso coerente com os tempos atuais e, na prática, sabe que pode (re)circular uma peça de roupa que estava deixada no fundo do armário, no estoque, no brechó, agora revista sob sua ótica.
Afinal, é essa ressignificação de peças que dá força ao trabalho da estilista. Ela tem um discurso coerente com os tempos atuais e, na prática, sabe que pode (re)circular uma peça de roupa que estava deixada no fundo do armário, no estoque, no brechó, agora revista sob sua ótica.
Assim como revê a figura de Silene Zepter, top brasileira de trinta anos atrás, que reaparece como uma entidade poderosa nos cabelos louros contrastados com o robe pink.
Ao mesmo tempo, menos agressiva que sua inspiração artpunk, constrói uma coleção confortável e sem perder sua verve habitual - sobrepondo pesos de tecidos, usado as camisas como bases para outras texturas, trabalhando matérias-primas de tapeçaria.
Não é que ela tenha deixado de ser um caminho à parte - mas tem alguma coisa ali que ficou mais sólida, talvez.
Ao mesmo tempo, menos agressiva que sua inspiração artpunk, constrói uma coleção confortável e sem perder sua verve habitual - sobrepondo pesos de tecidos, usado as camisas como bases para outras texturas, trabalhando matérias-primas de tapeçaria.
Não é que ela tenha deixado de ser um caminho à parte - mas tem alguma coisa ali que ficou mais sólida, talvez.