
(...) pensava sempre no mar como sendo la mar:
:
NERIAGECASA DE CRIADORES
Verão 2019
—
Rafaella Caniello é o tipo de garota que gosta de fazer as coisas com calma, do jeito dela, no seu canto. Os desfiles da sua Neriage são assim: construídos em sequência, comunicando-se, trocando símbolos entre um e outro.
A exemplo do último inverno, a temática aqui novamente é da água. Mas se lá ela estava mais animada, aqui o assunto é mais denso, contemplativo, quase perigoso. Rafa vai de Hemingway (O velho e o mar) para se adensar em águas oceânicas, que podem ser plácidas e, ao mesmo tempo, aterrorizantes (são para mim).
Do mesmo jeito, os azuis iniciais remetem ao final do desfile passado - um fio condutor que ela gosta de construir. Mas, agora, em tons mais encorpados como devem ser em se tratando de alto mar, dando assunto a peças transpassadas que abrem caminhos a linhos mais claros - remetendo a um daqueles clássicos faróis de orientação aos navegantes, uma figura que a estilista tem certa fixação.
A exemplo do último inverno, a temática aqui novamente é da água. Mas se lá ela estava mais animada, aqui o assunto é mais denso, contemplativo, quase perigoso. Rafa vai de Hemingway (O velho e o mar) para se adensar em águas oceânicas, que podem ser plácidas e, ao mesmo tempo, aterrorizantes (são para mim).
Do mesmo jeito, os azuis iniciais remetem ao final do desfile passado - um fio condutor que ela gosta de construir. Mas, agora, em tons mais encorpados como devem ser em se tratando de alto mar, dando assunto a peças transpassadas que abrem caminhos a linhos mais claros - remetendo a um daqueles clássicos faróis de orientação aos navegantes, uma figura que a estilista tem certa fixação.
Agência Fotosite
É um tipo de moda que bota o foco nos detalhes - e merece ser olhada mais de perto do que uma passarela propõe. Ela vai relendo texturas da sua temática na sobreposição de tecidos, na construção de silhuetas, nos desfiados e em bordados pontuais.
Agência Fotosite
Apesar de estar no seu terceiro desfile, a Neriage já tem conquistado seu espaço ao bater forte na tecla do slow fashion. Não à toa, tem um público fiel que entende o trabalho.
Tudo ali é feito, de novo, com calma: usando matérias primas locais, costureiras próximas à linha de produção, construções handmade. Muito mais interessante um plissado feito à mão, como os que ela mostra nos seus quimonos, do que o feito na China, pronto de fábrica.
Muito mais caro também, obviamente. Mas ela está no caminho certo para a moda desse fim de década: uma produção pequena, preciosa e paciente.
Tudo ali é feito, de novo, com calma: usando matérias primas locais, costureiras próximas à linha de produção, construções handmade. Muito mais interessante um plissado feito à mão, como os que ela mostra nos seus quimonos, do que o feito na China, pronto de fábrica.
Muito mais caro também, obviamente. Mas ela está no caminho certo para a moda desse fim de década: uma produção pequena, preciosa e paciente.


Ricardo Toscani